Quem são
eles? *
Durante a
minha adolescência, ou mais precisamente no início dela, eu pensava
muito sobre o porque de eu não ter sido jovem na década de 60. A
efervescência cultural, a intelectualidade, as revoluções, a
rebeldia da juventude, tudo isso me fascinava (até hoje!). Entendam,
eu me sentia parte de uma época muito pobre cultural e tinha acesso
a muito do que tinha sido visto anteriormente.
Hoje, eu
vejo que eu estava muito enganada quanto a esses sentimentos, ou
parte deles. A década de 1990 não foi assim tão pobre. Não quando
podemos comparar com o que acontece agora. Lembro que antes de
estourar as manifestações de 2013, um grupo de jovens voltava no
mesmo ônibus que eu e me peguei conversando com um deles. A pessoa
era um jovem universitário e vi a ignorância de uma geração ali.
Sabe o que é começar a discorrer a respeito da História nacional e
como isso implicava nos movimentos atuais e a pessoa ficar te olhando
sem entender?
Pois é.
Não me admira que jovens passem a reproduzir ideias e pensamentos
incongruentes e inacurados, ou mesmo mentiras históricas, sob a
ótica de uma pretensa democracia. Vejam, as pessoas não precisam
ter as mesmas ideias que eu, e acho muito válido que assim seja, mas
por favor tenha fatos e fundamentos.
Ver uma
menina, porque a pessoa não é mais que isso, conversar com um idoso
e balizar uma situação através de uma única vivência, para
atestar que a ditadura militar não foi isso que contam, é, no
mínimo, uma inocência letárgica. Desculpa, mas ao fazer isso, não
o faz por si mesma, age como um idiota útil. Ainda que essa
expressão seja usada em relação a pessoas que tenham empatia pela
esquerda, dela me aproprio para aqueles ligados a direita ou aos
meios mais reacionários.
O pior
dessa situação é ver que essas pessoas tem acesso a internet e a
equipamentos que permitem-lhes propagar suas bobagens. Só o que eu
gostaria é ter um igual para discutir, não dá para nivelar por
baixo. Sim, por baixo, porque ao invés de parar para colocarmos pau
a pau teorias e fatos, as discussões redundam a ataques pessoais,
sociais e de gênero – como se fossemos apenas isso.
Use os
meios que tem e procure saber além da vivência de apenas uma
pessoa. Existem muitos textos, pesquisas, investigações, vídeos,
matérias para se informar. Esse é o momento para não ser o pateta
na história toda. Vou dar até uma palinha, abaixo tem uma indicação
de um livro gratuito sobre nossos anos de chumbo. Não é o mais
completo, porém, um dos seus autores (um desembargador), conta sua
vivência da época dentro da sua carreira jurídica. E deixa algo
muito claro: tivemos mais de uma ditadura dentro do panorama
nacional. Logo, não dá para tomar como algo a história única
passada.
Cheguei a
pensar em intitular este texto como bobo da corte, mas nem mesmo
assim pode ser chamado. Associamos essa figura comumente a uma pessoa
que aguenta o que aguenta e ainda assim sabe todo o panorama
sócio-econômico.
Acho que
para o que eu disse aqui, é atribuir muito ao nada.
*'The
fool on the hill' by Sir Paul McCartney/ Beatles.
**
FREITAS, Vladimir Passos et al. O Poder Judiciário no Regime
Militar (1964-1985).
O livro
pode ser encontrado gratuitamente aqui.
É, concordo, o problema passa por questão ainda mais profunda.
ResponderExcluirNão é difícil entender, embora agora eu acabe parafraseando meus avós e tios, que "essa geração perdeu a capacidade de crítica", não vou levantar bandeira política aqui, pois já sabemos que o problema da ignorância e do ódio são endêmicos (para ambos os hipotéticos "lados"), mas no mínimo as pessoas deveriam ter curiosidade de conhecer mais á fundo a história para não repetir erros "idiotas" já cometidos no passado.
Eu mesmo sou meio conservador e acredito num equilíbrio entre liberdade e direito , mas minha percepção da realidade mudou muito nos últimos anos de faculdade. Você falou em cultura e que ela está aí a disposição de todos, mas sem orientação essa turma não saberia nem como aproveitar as idéias e temas abordados em trabalhos como Cabra Marcado Para Morrer 1984 (gravado em 70), Rio 40° expoente do cinema novo no Brasil e uma importante crítica e alerta para um problema mais atual que nunca, os textos de história política e cultural modernos pós Annales, trabalho de sociólogos e antropólogos trabalhados nso cursos de humanas como Weber e Bourdieu.
Acho que a solução está realmente na educação, essa é a bandeira que deve ser levantada nesse país nos próximos anos, e quem sabe para as próximas gerações, só assim teremos um quadro de mudanças reais e permanentes com menos idéias prontas e burras de ambos os "lados" da ignorância.
É, Luciano, só a educação salva. Para o bem ou para o mal.
ResponderExcluirEu indico um livro para quem quiser dar uma vista no que foi a ditadura do ponto de vista jurídico.
Agora, um outro ponto é ver se há real interesse quanto ao procurar saber. :/
Oi, Pat
ResponderExcluirNão sei se esse tipo de discurso idiota é privilégio desta geração. Lembro-me que havia gente da nossa faixa etária que tinha um discurso bem semelhante. Ouvi nos anos em que seguiram as nossas formaturas gente dizer coisa do tipo: "na época dos militares não havia tanto escândalo de corrupção quanto se tem hoje". [ironia]É verdade. Não havia tanto escândalo, tanto que os jornais não tinham muito assunto; precisavam colocar receita de bolo e poesias da Cecília para encher suas páginas[/ironia].
Entendo que,de fato, o fácil acesso à informação, como você colocou - e bem* - não significa que as pessoas vão querer acessá-la. As pessoas não acessam a internet para mudar de opinião, elas usam as redes sociais como caixa de ressonância para ideias que elas já tinham, por isso que nos fóruns e faces da vida o que se tem não é debate, mas sim um longo e extenso catálogo de falácias, ade rgumentos ad hominem, ad personam e do meu favorito Reductio ad Hitlerum ("sabe quem também não gostava de My Little Pony? Hitler!").
* Ah que saudades do meu orientador de mestrado! Ele sempre que falava assim; "Como o sotor disse - e bem-...".
Isso é verdade. E é exatamente como você está colocando. O Facebook virou lixeira. :/
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