Mostra Dalí - 07.01.2015 |
Essa vida
é curta e isso é um fato.*
Esses
dias me peguei pensando a respeito das pessoas que costumamos gostar,
curtir (a palavra da vez), ou no fim das contas: termos como nossos
ídolos. Normalmente olhamos para os outros nesse sentido por suas
ideias, por que falam aquilo que pensamos e gostaríamos de externar.
Mas recentemente, ao aprofundar a questão sobre isso, em minha
mente, também me lembrei que temos por hábito colocar num pedestal
outros tipos, as vezes artistas, como músicos, desenhistas,
roteiristas, enfim novos tipos de heróis.
Eu mesma
compartilho da ideologia de alguns artistas. Realmente gosto de
ouvir, ler, absorver o que tem a dizer ou transmitir. Sou dessas de
ir numa exposição de arte e esperar as impressões dos trabalhos
aparecerem em meu íntimo – isso sou eu e parte da visão crítica
que eu tenho nesses casos, querendo reverberar na minha cabeça.
No
entanto, após a exposição de motivos de um amigo para se desfazer
das cópias da obra de um famoso artista de quadrinhos, peguei-me
pensando a respeito de mantermos essa coerência sobre o que temos
como certo e seguir uma pessoa em particular. Achei, da parte dele,
muito corajoso consigo mesmo, o fato dele se libertar do seu apreço
pela obra em face de quem é a verdadeira pessoa por trás do
artista.
Ao mesmo
tempo, logo após ser confrontada com isso, vi o caso de um artista
(que eu sequer sabia da existência) que ao rebater as notícias
publicadas por um determinado jornalista, falou meia dúzia de
comentários preconceituosos em sua página numa rede social, levando
seus jovens fãs a deixarem comentários raivosos e tão
preconceituosos quanto na página desse comunicador. Pergunto-me se
esse 'artista' não tem noção do valor e peso do que fala e diz na
cabeça desses seus seguidores, ou se não sabe que, mesmo em algo
tão fugaz e fútil quanto é 'a sua carreira', ainda assim é um
formador de opinião.
Até
recentemente na historiografia, o importante era reportar a vida do
lado que ganhou e mais especificamente dos homens que fizeram isso, o
interesse redundava em termos geopolíticos e patriarcais. Isso passa
mudar a partir e ao longo do século XX, quando a História abraça a
importância dos que, até aquele momento, não eram considerados
materiais para estudo. Essas pessoas e grupos passam a ter voz e um
espaço de fala. As pessoas descobrem que esses outros também têm
uma mensagem a passar.
Hoje,
todo mundo tem algo a dizer, mas nem todo mundo se importa de ouvir,
porque o importante é você ter uma ideologia para chamar de sua, um
ídolo para chamar de seu. Dar 100% de si para ele, sem importar com
mais nada. Doa a quem doer. O que importa é a imagem e não o
conteúdo? E o que anda parecendo. Dá uma sensação de vazio muito
grande e hipocrisia. Triste isso.
Vejo
muito que as pessoas não se focam mais em lideranças políticas,
pensadores acadêmicos (ainda existem alguns cultuados) e chefes
militares, estamos vendendo nossa alma para artistas. Porém, será
que não estamos nos vendendo por pouco?
O que
estamos recebendo de volta?
*Ainda a
referência aos “Filhos da Anarquia”... ou no caso a música
"This Life" escrita por Curtis Stigers, Kurt Sutter, Bob
Thiele Jr., David “Dave” Kushner; e interpretada por Curtis
Stigers & The Forest Rangers.
A crítica a história, a mudança de paradigma sobre a qual você falou é bem profunda e bastante discutida na verdade até hoje, os melhores representantes desse movimento, são os historiadores da Escola dos Annales a revista francesa de história econômica e social que revolucionou a história, diga-se passagem tem um livro de mesmo nome de Peter Burke.
ResponderExcluirQuanto aos ídolos, podemos levar isso para outro patamar.Hoje é normal todo-mundo dizer que é NERD, é normal todo mundo dizer que ã de um autor específico, principalmente se for o autor da moda, mas ninguém parece estar prestando atenção na mensagem desses autores. A exemplo de "fãs" e quadrinho que dizem amar os quadrinhos de Alan Moore, tem na prateleira os a edição especial capa dura de V de Vingança mas nas redes sociais atacam amigos e desconhecidos com palavras de ódio, preconceito ou ignorância, ou seja, não absorveram, não entenderam nada da obra de Moore e Lloyde. Ou cara que se diz fã de JRR Tolkien, e escreve frases ou faz brincadeiras ofensivas com nordestinos, baianos, paraibanos, cearenses... mais uma vez não entendeu nada da obra do autor, sua mensagem ou suas idéias, é um "fã" estético, aquele quer ser reconhecido por ter lido os livros ou ter a fantasia mais bacana do Gandalf, mas não entendeu a menagem de igualdade, nobreza, honra e amor fraternal que obra apresenta.
Na revolução industrial o tempo do homem virou o da máquina, na revolução digital o tempo do homem é o computador, mas vida real, essa de veradde, fora do ambiente virtual parece que não nos damos tempo para entender e refletir sobre as idéias, sobre a vida e pensamento de nossos ídolos. Podemos saber mais sobre eles do que nunca, mas não entendemos eles, eles não nos "tocam a alma" como você disse, e com isso, perdemos um universo maravilhoso que esse mesmo mundo digital, misto de maldição e benção tem pára nos mostrar.
Obrigada, Luciano, pelo comentário.
ExcluirÉ mais ou menos por aí mesmo como você colocou. Estamos num momento muito estranho em que o importante é ter e não ser.
Exatamente a Escola dos Annales - não sei se você sabe, mas eu fiz um ano de História antes de ir para o Direito. É meu puxadinho no inferno deve ter começado aí. ;)
KKKKKKK é história é faculdade que abre a cabeça! :-)
ResponderExcluirCom certeza. ;)
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