domingo, 21 de junho de 2015

Heróis Perdidos

Mostra Dalí - 07.01.2015
Essa vida é curta e isso é um fato.*

Esses dias me peguei pensando a respeito das pessoas que costumamos gostar, curtir (a palavra da vez), ou no fim das contas: termos como nossos ídolos. Normalmente olhamos para os outros nesse sentido por suas ideias, por que falam aquilo que pensamos e gostaríamos de externar. Mas recentemente, ao aprofundar a questão sobre isso, em minha mente, também me lembrei que temos por hábito colocar num pedestal outros tipos, as vezes artistas, como músicos, desenhistas, roteiristas, enfim novos tipos de heróis.

Eu mesma compartilho da ideologia de alguns artistas. Realmente gosto de ouvir, ler, absorver o que tem a dizer ou transmitir. Sou dessas de ir numa exposição de arte e esperar as impressões dos trabalhos aparecerem em meu íntimo – isso sou eu e parte da visão crítica que eu tenho nesses casos, querendo reverberar na minha cabeça.
No entanto, após a exposição de motivos de um amigo para se desfazer das cópias da obra de um famoso artista de quadrinhos, peguei-me pensando a respeito de mantermos essa coerência sobre o que temos como certo e seguir uma pessoa em particular. Achei, da parte dele, muito corajoso consigo mesmo, o fato dele se libertar do seu apreço pela obra em face de quem é a verdadeira pessoa por trás do artista.
Ao mesmo tempo, logo após ser confrontada com isso, vi o caso de um artista (que eu sequer sabia da existência) que ao rebater as notícias publicadas por um determinado jornalista, falou meia dúzia de comentários preconceituosos em sua página numa rede social, levando seus jovens fãs a deixarem comentários raivosos e tão preconceituosos quanto na página desse comunicador. Pergunto-me se esse 'artista' não tem noção do valor e peso do que fala e diz na cabeça desses seus seguidores, ou se não sabe que, mesmo em algo tão fugaz e fútil quanto é 'a sua carreira', ainda assim é um formador de opinião.
Até recentemente na historiografia, o importante era reportar a vida do lado que ganhou e mais especificamente dos homens que fizeram isso, o interesse redundava em termos geopolíticos e patriarcais. Isso passa mudar a partir e ao longo do século XX, quando a História abraça a importância dos que, até aquele momento, não eram considerados materiais para estudo. Essas pessoas e grupos passam a ter voz e um espaço de fala. As pessoas descobrem que esses outros também têm uma mensagem a passar.
Hoje, todo mundo tem algo a dizer, mas nem todo mundo se importa de ouvir, porque o importante é você ter uma ideologia para chamar de sua, um ídolo para chamar de seu. Dar 100% de si para ele, sem importar com mais nada. Doa a quem doer. O que importa é a imagem e não o conteúdo? E o que anda parecendo. Dá uma sensação de vazio muito grande e hipocrisia. Triste isso.
Vejo muito que as pessoas não se focam mais em lideranças políticas, pensadores acadêmicos (ainda existem alguns cultuados) e chefes militares, estamos vendendo nossa alma para artistas. Porém, será que não estamos nos vendendo por pouco?
O que estamos recebendo de volta?


*Ainda a referência aos “Filhos da Anarquia”... ou no caso a música "This Life" escrita por Curtis Stigers, Kurt Sutter, Bob Thiele Jr., David “Dave” Kushner; e interpretada por Curtis Stigers & The Forest Rangers.

4 comentários:

  1. A crítica a história, a mudança de paradigma sobre a qual você falou é bem profunda e bastante discutida na verdade até hoje, os melhores representantes desse movimento, são os historiadores da Escola dos Annales a revista francesa de história econômica e social que revolucionou a história, diga-se passagem tem um livro de mesmo nome de Peter Burke.

    Quanto aos ídolos, podemos levar isso para outro patamar.Hoje é normal todo-mundo dizer que é NERD, é normal todo mundo dizer que ã de um autor específico, principalmente se for o autor da moda, mas ninguém parece estar prestando atenção na mensagem desses autores. A exemplo de "fãs" e quadrinho que dizem amar os quadrinhos de Alan Moore, tem na prateleira os a edição especial capa dura de V de Vingança mas nas redes sociais atacam amigos e desconhecidos com palavras de ódio, preconceito ou ignorância, ou seja, não absorveram, não entenderam nada da obra de Moore e Lloyde. Ou cara que se diz fã de JRR Tolkien, e escreve frases ou faz brincadeiras ofensivas com nordestinos, baianos, paraibanos, cearenses... mais uma vez não entendeu nada da obra do autor, sua mensagem ou suas idéias, é um "fã" estético, aquele quer ser reconhecido por ter lido os livros ou ter a fantasia mais bacana do Gandalf, mas não entendeu a menagem de igualdade, nobreza, honra e amor fraternal que obra apresenta.

    Na revolução industrial o tempo do homem virou o da máquina, na revolução digital o tempo do homem é o computador, mas vida real, essa de veradde, fora do ambiente virtual parece que não nos damos tempo para entender e refletir sobre as idéias, sobre a vida e pensamento de nossos ídolos. Podemos saber mais sobre eles do que nunca, mas não entendemos eles, eles não nos "tocam a alma" como você disse, e com isso, perdemos um universo maravilhoso que esse mesmo mundo digital, misto de maldição e benção tem pára nos mostrar.

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    1. Obrigada, Luciano, pelo comentário.
      É mais ou menos por aí mesmo como você colocou. Estamos num momento muito estranho em que o importante é ter e não ser.
      Exatamente a Escola dos Annales - não sei se você sabe, mas eu fiz um ano de História antes de ir para o Direito. É meu puxadinho no inferno deve ter começado aí. ;)

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  2. KKKKKKK é história é faculdade que abre a cabeça! :-)

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